Pesquisas recentes revelaram uma interação bidirecional entre o sistema nervoso central e o trato gastrointestinal, mediada pelo nervo vago, capaz de promover sinalizações bioquímicas entre eles. Avanços nesses estudos mostram relação entre transtornos psiquiátricos e alterações no microbioma, fazendo do trato gastrointestinal um alvo para tratamento dessas condições (Wallace et al., 2017).
Nos bastidores da relação entre intestino e cérebro está uma vasta comunidade de micro-organismos que habitam o intestino, conhecida como "microbioma".Essa diversidade de espécies bacterianas encontra no intestino um ambiente ideal para viver e se desenvolver, enquanto, em troca, realiza funções essenciais que o corpo humano não é capaz de desempenhar sozinho. Estima-se que o intestino possa abrigar até mil tipos diferentes de bactérias, embora a maioria pertença a dois grupos principais — Firmicutes e Bacteroides — que juntos representam cerca de 75% dessa comunidade microbiana.
Os micro-organismos que habitam o intestino são, em sua maioria, benéficos, embora também existam alguns que podem ser prejudiciais. No entanto, isso geralmente não é motivo de preocupação, pois o corpo tende a manter um equilíbrio ideal entre essas bactérias boas e ruins. Contudo, fatores como dieta inadequada, estresse ou outros problemas físicos e mentais podem desequilibrar essa relação, desencadeando um efeito dominó que pode resultar em diversos impactos negativos para a saúde (Walsh, 2018).
A ausência de colonização da microbiota está associada a mudanças na expressão de neurotransmissores, além de disfunções motoras e sensoriais no trato gastrointestinal. Esse desequilíbrio intestinal também leva a uma produção constante de metabólitos inflamatórios que, através de vias aferentes, atingem o sistema nervoso central, resultando em neuroinflamação (Minayo et al., 2021)
Em 2010, Michael Messaoudi e seus colegas estudaram 55 homens e mulheres saudáveis, aos quais foi atribuída uma fórmula probiótica diária ou um placebo, durante trinta dias. Antes e depois do tratamento, os pesquisados preencheram questionários sobre seu humor.Também forneceram amostras de urina, para monitorar seus níveis de cortisol, o principal hormônio do estresse. Em comparação aos do grupo do placebo, os que receberam probióticos relataram menos depressão e seus níveis de cortisol estavam inferiores, indicando que seus cérebros estavam menos deprimidos e também menos estressados (Walsh, 2018).
Estudos com probióticos, microrganismos vivos que, ao serem ingeridos, beneficiam a saúde intestinal, indicam efeitos terapêuticos positivos também no sistema nervoso central. Evidências concretas de estudos pré-clínicos demonstram que os probióticos podem influenciar o comportamento, melhorar o humor e modular neurotransmissores. Assim, a suplementação com probióticos apresenta-se como um possível aliado na terapia para o s em outros aspectos psicológicos, como estresse, ansiedade e funções cognitivas, além de reduzir o cortisol plasmático e citocinas pró-inflamatórias (Minayo et al., 2021).
Uma revisão sistemática que incluiu dez estudos de cinco bases de dados diferentes analisou a cepa Lactobacillus casei em períodos que variaram de 3 semanas a 6 meses. Entre os estudos, cinco avaliaram sintomas de humor, com todos, exceto dois, relatando melhorias após o uso do probiótico. Três desses estudos também avaliaram aspectos da cognição, e todos observaram efeitos positivos (Wallace et al., 2017).
Outra revisão sistemática analisou seis estudos com intervenções que variaram de quatro a doze semanas. Três desses estudos relataram melhora nos sintomas depressivos, enquanto os outros três indicaram ausência de alteração nos sintomas ou melhora insignificante. Entretanto, mesmo nos estudos que não observaram mudanças significativas nos sintomas depressivos, concluiu-se que L. plantarum apresentou efeitos positivos no tratamento da depressão e outras doenças psiquiátricas (Minayo et al., 2021).
Por que isso aconteceu? Certas espécies de bactérias do intestino têm a capacidade de turbinar os níveis de substâncias químicas do cérebro, como o ácido gama-aminobutírico (Gaba), o que talvez acelere o alívio da depressão e de outras condições de saúde mental.
Os probióticos podem ser encontrados em suplementos, mas é preferível elevar os níveis de bactérias amigáveis por meio de fontes alimentares. O iogurte de cultura ativa é uma das melhores fontes de probióticos; evite, apenas, iogurtes de frutas com açúcares adicionados. Outros alimentos ricos em probióticos incluem o tempeh, o missô e o natto (produtos fermentados à base de soja); chucrute; kefir (iogurte azedo); kimchi (conserva de origem coreana); kombucha (chá fermentado); leitelho (ou buttermilk); e certos queijos, como o cheddar, a muçarela e o gouda. Exemplos de alimentos ricos em prebióticos incluem o feijão e outros legumes, aveia, banana, frutas vermelhas, alho, cebola, folhas de dente-de-leão, aspargo, tupinambo e alho-poró (Walsh, 2018).
WALLACE, J. K. Caroline e MILEV, Roumen. The effects of probiotics on depressive symptoms in humans: a systematic review. Queen’s University, Canada, Ann Gen Psychiatry 16:14, 2017.
WALSH, William J. O poder dos nutrientes: como a bioquímica natural está substituindo os remédios psiquiátricos no tratamento de distúrbios mentais. Tradução de Raimundo Rodrigues Santos. 1. ed. Rio de Janeiro: Versal, 2018.
Minayo MS, Miranda I, Telhado RS. A systematic review of the effects of probiotics on depression and anxiety: an alternative therapy? Cien Saude Colet. 2021 Sep;26(9):4087-4099. Portuguese, English. doi: 10.1590/1413-81232021269.21342020. Epub 2020 Jun 28. PMID: 34586262.
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